“Minha luta diária é para ser reconhecida como sujeito, impor minha existência numa sociedade que insiste em negá-la.” (Djamila Ribeiro)
Como cita a autora Djamila, Mariluce faz jus aos seus apontamentos. Mulher, negra e quilombola, desde cedo com muito esforço e dedicação, a jovem de 18 anos, nascida na comunidade quilombola do Rosário de Cima, situada no município de Virgem da Lapa, Vale do Jequitinhonha - MG, é a primeira em seu quilombo a conquistar uma vaga na Universidade de São Paulo - USP, considerada pela QS World University Rankings, (Um dos Rankings do Ensino Superior mais respeitados do mundo), como a melhor Universidade do Brasil.
Oriunda de escola pública, Mariluce concluiu os anos iniciais na escola do seu quilombo, e, posteriormente o ensino fundamental em escolas do município, e passou a ser a primeira estudante de seu quilombo a ter a oportunidade de fazer o ensino médio integrado ao técnico em um Instituto Federal. A jovem concluiu o curso técnico em informática. Mariluce também atuou com muito engajamento no resgate da cultura material e simbólica de seu quilombo, e, através de um trabalho de pesquisa intitulado: “A organização das comunidades quilombolas: um estudo sobre a comunidade quilombola União dos Rosários” , enquanto esteve como aluna no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais campus Araçuaí, lhe rendeu o 1º lugar na área de ciências sociais no VIII Seminário de Iniciação Científica (SIC), realizado na cidade de Pirapora em 2019.
No mesmo ano, o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - Campus Araçuaí foi representado pela estudante, com o projeto: “Sistema automatizado para acionamento de gerador de energia local” campeão da 4ª Mostra Científica das Escolas em Araçuaí (IV MOSTRAR), que lhe rendeu o acesso à Feira Brasileira de Ciências e Engenharia – FEBRACE na USP em São Paulo.
Nesses momentos, o apoio familiar se torna imprescindível, pois demonstra o quanto a família auxilia no processo de ascensão da(o) jovem quilombola. Sendo assim, seu pai, Adão de Jesus, o maior incentivador de Mariluce, fez questão de ir à São Paulo para prestigiar o evento da FEBRACE e ver a filha apresentando o projeto juntamente com sua equipe. Bastante interessado pela carreira acadêmica de “Lulu” (apelido dado pelo pai à Mariluce), e emocionado, disse que “ninguém nunca havia imaginado que eles, iriam colocar os pés naquele local (USP)”, conta o pai da jovem quilombola.
Sua mãe Tereza sempre lhe deu bons conselhos sobre sonhar e acreditar em dias melhores, tanto na carreira pessoal, quanto acadêmica. Infelizmente, ela não podia estar presentes nos locais onde a filha apresentava os projetos, pois tinha que cuidar das duas irmãs da jovem, que são especiais e que exigem todo e qualquer tipo de atenção da mãe. Mesmo assim, os conselhos eram como sementes jogadas em terra fértil, conta Mariluce, pois, quando alguém lhe dizia que ela não iria conseguir, sua mãe lhe falava que a verdade ninguém sabia, pois era de onde ela menos esperava é que vinha o seu sucesso e a superação. Tereza ficou muito feliz em saber que sua filha seria a primeira jovem do quilombo a cursar o ensino superior naquela instituição.
"Quantas vezes ouvimos a frase: “sonhar não é poder", e, muitas vezes desistimos de sonhar porque muitos não acreditam que você realmente pode, e dependendo de sua etnia e da posição social que você se encontra este direito de sonhar é cortado a todo momento, mas essa realidade vem mudando, nosso povo está empoderando-se, no reconhecimento fisicamente e intelectualmente, e assim as portas vão se abrindo pela persistência do “estudar”, o estudo é o caminho que nos leva a realizar sonhos." (Jô Pinto, 2018)
Mariluce foi contemplada com a participação no MiniOnu, maior modelo intercolegial das Nações Unidas na América Latina, ocorrido em 2018. Estudantes dos campi Araçuaí e Almenara vivenciaram momentos de interação ao Simular a Conferência da ONU em Comitês como UNICEF, UNESCO, OEA 2016, CDH 2019, CE 2019, OMI dentre outros. O evento foi promovido e sediado pela PUC Minas.
Pelo último ENEM, Mariluce também foi aprovada nos cursos de Engenharia de Controle e Automação na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG no campus Pampulha em Belo Horizonte, e Bacharelado & Tecnologia na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM, no campus Diamantina. Já com a matrícula online pronta para ingressar no 2º semestre na UFMG, a jovem recebeu o e-mail da USP com a notícia que ela também havia sido aprovada no curso de Engenharia Elétrica. Resultado de um vestibular feito para a Universidade também no ano de 2019, e após discussões sobre seu destino acadêmico, Mariluce optou pela USP, efetivando assim sua matrícula no dia 11 de março de 2020.
Engajamento, força de vontade, foco, fé e equilíbrio são algumas palavras que descrevem essa jovem, mesmo encontrando vários obstáculos, que muitas vezes poderiam a fazer desistir, encontrou forças para continuar, demonstrando que é um exemplo para quem deseja estudar e se mover em busca dos seus sonhos.
Voa, Mariluce!
Raquel de Souza
Carlos Eduardo
@Portal VDL
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